Wednesday, March 29, 2006

ao acordar senti-me estranho.
como se estivesse divido em vários,
senti-me fragmentado.
fragmentado e perdido.
algo me faltava,
algo não se encontrava em mim.
a minha alma, eu, dividida.
quantos sou eu?
quantos somos nós?

e sinto-me cansado.
todas as partes de mim,
todos os meus fragmentos, cansados e exaustos.
preciso da minha terra,
da minha casa,
da minha cama.
vou precisar de dias, talvez até anos ou séculos
para me livrar deste fardo.
quero fechar os olhos e cair num sono profundo,
como se voltasse ao início e nada mais importasse.
onde não carregasse este enfadonho cansaço,
onde não tivesse que acordar.
quero acordar e ser capaz de pensar,
respirar e observar o mundo,
as pessoas,
os sons..
.quero fazer tudo com paixão.
quero juntar todos os bocados de mim num só,
dormir e voltar a acordar apaixonadamente para o mundo.
quero pensar sem pesar,
amar sem dor,
viver sem cansar.

Monday, March 27, 2006

hoje fui à cidade. continuo perdido nas memórias vivas da cidade como se me tivesse lá perdido. lá, tudo se mexia, nada parava, nada estava quieto, nem por um segundo. os carros percorriam as longas estradas negras de alcatrão numa corrida frenética. correm, sem eu saber para onde, nem porquê. uma imensa multidão inunda as ruas e os passeios parecem muito pequenos para tal imensa multidão. parecem programados, programados para andar dum lado para o outro, sem parar. os seus rostos com uma expressão indefinida, como que perguntando-se a si mesmo para quê, porquê, para onde? não sei, as pessoas parecem não saber. à minha volta cercam-me montanhas cinzentas de betão e cimento. prédios, arranha-céus, tudo cinzento, tudo monocromático, parecem tocar o céu. parecem não ter fim...

e a noite cai...

a vida própria da cidade não se extingue, nem agora que a noite cai. acendem-se candeeiros e faróis. tudo parece pintado de luz. um misto de amarelo, laranja e branco parece colorir tudo à minha volta. e cegam-me estas luzes. os carros continuam a sua corrida frenética, não abrandam nunca. as pessoas continuam na rua e vão para todo o lado e para lado nenhum. a miséria sai à rua; uns quantos pedem esmola, outros, esfarrapados procuram um pedaço de cartão com que se tapar e um sítio mais sossegado que o da noite anterior para passar a noite. jovens desorientados aparecem e procuram no pecado mais uma noite de prazer fácil e pago. os prédios, antes cinzentões, são agora banhados por uma luz amarela, algo desoladora.
o céu por eles tocado é negro. está despido o meu céu.
não vejo sequer a estrela a que uma vez dera o teu nome.....

tenho saudades de casa. todos nos conhecemos e sabemos para onde vamos. a miséria não sai à rua e o pecado gratuito não existe. os carros não correm frenéticos para lado nenhum. o cinzento betão é aqui verde, verde das montanhas e da vegetação que tanto me alegra. as casas são pequenas e rasteiras, animadas, coloridas, interessantes.
quando a noite cai, não vejo aquele pálido e doentio amarelo. ilumina-me o caminho a luz calma e macia da lua cheia. e lá cima o meu céu é uma visão maravilhosa, quase inimaginável. está tão coberto de estrelas! e lá no meio de todo aquele emaranhado estrelado vejo-a. vejo-a inconfundível. a estrela a que uma vez dei o teu nome.

by
Ghost Reverie