Thursday, March 23, 2006

doem-me os olhos. não consigo sequer abri-los, como se nunca os tivesse usado antes. o corpo, mal o sinto. uma rigidez fria e crua petrifica os músculos do meu corpo. com as minhas mãos, consigo sentir que o meu corpo está apenas coberto por uma bata e um lençol.
finalmente abro os olhos, mas apresso-me a fechá-los. do tecto, sobre mim, incide nos meus olhos uma forte luz branca, imensa e ardente. quando sou capaz, abro finalmente os meus olhos.
tudo é branco. a minha bata, o lençol, as paredes, a luz.
estou deitado numa cama
com uma agulha espetada no meu braço. alimenta-me e dói-me.
o espaço não tem fim, o tempo é intemporal. a única noção de tempo que tenho é o monótono cair gota-a-gota do soro para o qual olho, meio maravilhado, meio confuso, meio a dormir.
tuda esta brancura enerva-me, irrita-me. é tudo imaculadamente branco e brilhante.
e eis que lá dentro, sinto um ardor. um ardor incontrolável. dor imensa, que me corrói, que me queima, que me consome.
a doença invadiu-me. deixou-me confinado a uma cama, a uma luz imaculada e a ser alimentado por um tubo.
o tempo é intemporal, o espaço infinito. estou doente e não quero estar. quero sair daqui. voltar para casa, para perto dos que amo.
o tempo é intemporal. não sei há quanto tempo aqui estou, quanto tempo vou ficar.
o espaço é infinito. não sei onde estou. sinto-me só e perdido.
tenho frio, tudo é branco. dói-me o buraco onde me espetaram.
fecho os olhos, adormeço e caio num sono profundo...

Wednesday, March 22, 2006

pensamentos de morte.
a solidão invade-me,
a escuridão abraça-me.
agora estou exausto.
quero voltar ao início,
quando ainda não me doía pensar,
tudo era negro e quente.
quero voltar ao início,
quando eu não era nada, quando nada importava.
não me lembro de antes,
mas voltar ao início reconforta-me.
de volta ao início,
nada importa.
não faço nada, e nada me fazem.
quero estar quente, quero estar só e seguro.
quero dormir para sempre.


mas eis que acordo.
abrem-se-me lentamente os olhos.
invade-me e queima-me a claridade.
acordo, não voltei ao início.
agora ainda estou exausto.
acordei, no presente.
acordei para a realidade.
lá fora chove, está escuro e faz frio.
cá dentro chove, está escuro e faz frio.
dentro de mim, chove, está escuro e faz frio.
estar longe de ti, sem ti, é um tormento.
saber que não estás bem é uma doença para mim.
sofro, porque sofres também.
não é dor fingida de poeta.
é dor de quem ama, é dor de quem sente.
não poder ter-te a meu lado
é para mim uma dor infindável.
sinto a tua falta.
por isso é que cá dentro chove, está escuro e faz frio.
por isso é que dentro de mim, chove, está escuro e faz frio.

Sunday, March 19, 2006

voltei à idade dos porquês...

porque vivemos?
porque respiramos?
porque morremos?
porque comemos?
porque bebemos?
porque estudamos?
porque nos magoamos?
porque sorrimos?
porque choramos?
porque é que chove?
porque faz sol?
porque custa o tempo a passar?
porque é que há tempo?
porque é que sofremos?
porque sinto a tua falta?
porque é tudo tão cinzento quando não estás aqui?
porque me parece tudo tão triste sem ti?
porque é tudo tão estranho sem ti?
porque amamos?
porque te amo?
porque é que te quero?
porque não me amas?

exausto

sinto o corpo e cabeça pesados.
preciso de dormir.
e sinto que horas não sejam suficientes para curar este cansaço pestilento.
preciso de anos, talvez séculos para dormir.
custa-me andar,
custa-me levantar,
custa-me até pensar e mover os meus dedos para escrever.
não quero acordar nem me levantar.
quero apenas dormir descansar
livrar-me do peso da exaustão concentrado em mim.
irrito-me, canso-me, não durmo.
quero dormir por séculos,
não ter que acordar.
livrar-me do cansaço,
de preocupações e pensamentos.
descansar, relaxar, dormir.
é o que eu preciso.