Thursday, September 11, 2008

Letra #2 - C, cansaço & criança [take 1]

É um cansaço sobretudo físico. Sinto-me a desfazer, sinto os músculos a torcerem e a contorcerem. O corpo está quente. É um cansaço que me obriga a deitar, a descansar. Um cansaço infernal, não estou habituado a lidar com ele. Sinto-me a envelhecer, a decair, sinto-me em decadência. Tenho medo que, ao me tentar mexer, todos os ossos estalem e se partam, num processo doloroso, moroso e lento. Vejo-me cansado todos os dias. Demasiado cansaço.

"O que há em mim é sobretudo cansaço."

A minha cabeça parece ceder, parece ser incapaz de processar tanta informação, de absorver tantas imagens e ideias, de solucionar tantas equações, de ter tantas ideias. Cedi.

"O que há em mim é sobretudo cansaço".

Nestas poucas alturas em que cedo e pareço cansado de morte, sinto vontade de regredir dez anos e sessenta centímetros. Ser criança. Ter a inocência de uma criança, as despreocupações de uma criança. Ser uma criança. Aprecio a simplicidade das pequenas coisas e a simplicidade das coisas pequenas. Estar bem alto, perto do céu. É isto que me fascina, faz-me sentir livre e pequeno outra vez, capaz de voar. Posso partir um prato que não me pesa a consciência, nem me grita a culpa. Sou pequeno e inocente, foi um acidente, não um desastre. Ver TV até tarde, estar gordinho e não me preocupar, ler BD, não estudar, não ter trabalho, não ter responsabilidades, não ter consciência, ser inocente, fazer "dói-dói", brincar com Legos, ser livre, correr, andar de bicicleta, fazer tolices, rir, andar de baloiço bem alto…e cair e acordar. Sinto mesmo a falta de ser uma criança, de andar de baloiço.

"O que há em mim é sobretudo cansaço."

Wednesday, September 10, 2008

Letra #1 - E, escrever

Na verdade dactilografar. Escrever implica uma folha, uma caneta, uma mão e uma mente. Não muito complexa, uma que se limite a pensar, a ter pensamentos sólidos e que esteja dispostos a libertá-los para passarem a ser materiais, concretos, de modo a passarem para o papel. Essa é a minha mente. Mas não estou a escrever. Não estou a ter contacto com o papel, não estou a ficar com as mãos sujas de tinta. Limito-me a pensar e a despejar a minha mente para uma virtualidade falível e que pode desaparecer. Confesso que nunca pensei confessar-me a uma máquina, fria e inconsciente. No entanto, por vezes parece ser a melhor solução: espelha-me com clareza e não se queixa se eu resmungar.
Escrever, parece-me a mim, é deixar um pensamento passar pelo nosso corpo, até à ponta dos nossos dedos, que vão pressionar as teclas dando uma forma concreta (ou virtual?) de algo apenas ideológico na minha mente.
Escrever é por vezes um desabafo, por vezes um exercício intelectual, por vezes puro vaidosismo, por vezes ainda o mais alto egocentrismo, ou então uma simples linha que não diz mais que um cliché velho, gasto, feio, mas que nos soa bem só porque nos apetece e queremos escrevê-lo naquele momento.
É incrível como as palavras escritas conseguem exprimir sentimentos, ainda que de forma oca, vazia ou incompleta.

Amor.
Ódio.
Nojo.
Vontade.
Excitação.
Liberdade.
Raiva.

Escrever para memorizar, como remédio ou antídoto. Escrever para me espelhar, exprimir, espalhar, dar, oferecer, pensar. Escrever por escrever. Na verdade, dactilografar.
É incrível como me parece fácil escrever, mesmo que seja para não dizer nada, nem que seja só porque me sinto bem, vazio, livre, solto, bem-disposto, aliviado. Escrever porque sim. E porque o computador sublinha os meus erros a vermelho.

Vida nova

Um renascer, uma vida nova, num sítio diferente.
Eu lá, tu ainda mais longe. Mas sempre próximos.
Queria que não existisse mais nada à nossa volta a não ser nós.
Nunca me esqueças, nunca me deixes.
Eu sou teu e tu és minha.
Nós somos um.