Wednesday, January 11, 2006

Quando o céu baixo e espesso


"Quando o céu baixo e espesso pesa como uma tampa
Sobre o espírito que geme preso pelo tédio,
E que do horizonte, a toda a volta,
Surge um dia mais negro do que a noite.

Quando a terra se transformou em masmorra húmida
Onde a esperança, como um morcego,
Se afasta roçando nas paredes as asas tímidas
E batendo com a cabeça nos tectos apodrecidos.

Quando a chuva, estendendo a imensa cauda
Duma vasta prisão imita as grades,
E uma multidão muda de infames aranhas
Vem estender os seus fios nos nossos cérebros.

Os sinos, de repente, explodem furiosos
E lançam para o céu um terrível urro,
Tal como os espíritos errantes e sem pátria
Que gemem incessantemente.

E longos funerais, sem tambor nem música,
Desfilam lentamente na minha alma; a Esperança
Vencida, chora e a Angústia atroz, déspota,
Sobre a minha cabeça inclinada, crava a bandeira negra."

Baudelaire, " Les fleurs du mal"

1 comment:

StupiDreamer said...

é quando temos de agarrar a vida...(a minha anda bem fugida).
quando nos iremos libertar de vez?