Wednesday, September 10, 2008

Letra #1 - E, escrever

Na verdade dactilografar. Escrever implica uma folha, uma caneta, uma mão e uma mente. Não muito complexa, uma que se limite a pensar, a ter pensamentos sólidos e que esteja dispostos a libertá-los para passarem a ser materiais, concretos, de modo a passarem para o papel. Essa é a minha mente. Mas não estou a escrever. Não estou a ter contacto com o papel, não estou a ficar com as mãos sujas de tinta. Limito-me a pensar e a despejar a minha mente para uma virtualidade falível e que pode desaparecer. Confesso que nunca pensei confessar-me a uma máquina, fria e inconsciente. No entanto, por vezes parece ser a melhor solução: espelha-me com clareza e não se queixa se eu resmungar.
Escrever, parece-me a mim, é deixar um pensamento passar pelo nosso corpo, até à ponta dos nossos dedos, que vão pressionar as teclas dando uma forma concreta (ou virtual?) de algo apenas ideológico na minha mente.
Escrever é por vezes um desabafo, por vezes um exercício intelectual, por vezes puro vaidosismo, por vezes ainda o mais alto egocentrismo, ou então uma simples linha que não diz mais que um cliché velho, gasto, feio, mas que nos soa bem só porque nos apetece e queremos escrevê-lo naquele momento.
É incrível como as palavras escritas conseguem exprimir sentimentos, ainda que de forma oca, vazia ou incompleta.

Amor.
Ódio.
Nojo.
Vontade.
Excitação.
Liberdade.
Raiva.

Escrever para memorizar, como remédio ou antídoto. Escrever para me espelhar, exprimir, espalhar, dar, oferecer, pensar. Escrever por escrever. Na verdade, dactilografar.
É incrível como me parece fácil escrever, mesmo que seja para não dizer nada, nem que seja só porque me sinto bem, vazio, livre, solto, bem-disposto, aliviado. Escrever porque sim. E porque o computador sublinha os meus erros a vermelho.

1 comment:

Unknown said...

E esse vermelho que tornou tudo tão mais belo... =) *