É um cansaço sobretudo físico. Sinto-me a desfazer, sinto os músculos a torcerem e a contorcerem. O corpo está quente. É um cansaço que me obriga a deitar, a descansar. Um cansaço infernal, não estou habituado a lidar com ele. Sinto-me a envelhecer, a decair, sinto-me em decadência. Tenho medo que, ao me tentar mexer, todos os ossos estalem e se partam, num processo doloroso, moroso e lento. Vejo-me cansado todos os dias. Demasiado cansaço.
"O que há em mim é sobretudo cansaço."
A minha cabeça parece ceder, parece ser incapaz de processar tanta informação, de absorver tantas imagens e ideias, de solucionar tantas equações, de ter tantas ideias. Cedi.
"O que há em mim é sobretudo cansaço".
Nestas poucas alturas em que cedo e pareço cansado de morte, sinto vontade de regredir dez anos e sessenta centímetros. Ser criança. Ter a inocência de uma criança, as despreocupações de uma criança. Ser uma criança. Aprecio a simplicidade das pequenas coisas e a simplicidade das coisas pequenas. Estar bem alto, perto do céu. É isto que me fascina, faz-me sentir livre e pequeno outra vez, capaz de voar. Posso partir um prato que não me pesa a consciência, nem me grita a culpa. Sou pequeno e inocente, foi um acidente, não um desastre. Ver TV até tarde, estar gordinho e não me preocupar, ler BD, não estudar, não ter trabalho, não ter responsabilidades, não ter consciência, ser inocente, fazer "dói-dói", brincar com Legos, ser livre, correr, andar de bicicleta, fazer tolices, rir, andar de baloiço bem alto…e cair e acordar. Sinto mesmo a falta de ser uma criança, de andar de baloiço.
"O que há em mim é sobretudo cansaço."
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
2 comments:
O poeta do século XXI nasceu cansado do tempo em que vive... =)
Belo texto.
Bem recordado aquele que para mim é o melhor poema de Álvaro de Campos.
Fica bem
Post a Comment